Albarus Andreos
em 08/ Março/ 2007
Não sei se deveria colocar isso aqui em ficção ou na seção de não-ficção, talvez ficasse bom numa seção Cotidiano, mas vamos lá. É com grande “orgulho que recebemos a visita de um homem extremamente odiado no mundo. Ops! Não sou eu quem o odeia, calma! Só estou falando a respeito dos números que vi recentemente na mídia a respeito da visita de Bush Jr. ao país.
Um chefe de estado estrangeiro ao Brasil, não deveria, mas suscita reflexões. Veja só: cinco mil agentes de segurança (guarda-costas), dentre militares e policiais brasileiros e agentes da CIA, americanos. Nada menos que cinco quarteirões ao redor do hotel da Presidential Entourage serão fechados para qualquer movimento (ninguém entra/ ninguém sai). Atiradores de elite serão colocados no topo dos prédios... Pera aí. Pera aí... o que vai ser colocado no topo dos prédios? Atiradores de elite? Isso existe mesmo?
Onde ficam esses sujeitos quando vemos aquelas cenas de assaltos a bancos ou ônibus, com reféns, onde o meliante fica com uma arma na cabeça de uma vítima? O cara fala, fala, fala... se meche para todo o lado, tira a arma, põe a arma (com o risco dela disparar e matar a vítima), anda, volta... e nenhum atirador de elite está ali para meter uma bala na cabeça do criminoso. Não falo aqui em pena de morte, não é absolutamente o caso, mas atirar num potencial assassino que numa fração de segundos pode pôr fim a vida de uma dona de casa ou de um trabalhador, já é razão suficiente para mandá-lo para a “Terra dos pés juntos”. Muitos, aliás, já não são mais “potenciais assassinos”, tendo fichas criminais que incluem dentre estelionato a chacinas, mesmo. Bandidinho chulé não assalta banco. Isso é para os profissionais, e bandido profissional só ganha a carteira do PCC depois de matar e torturar.
Sobre atiradores de elite, temos ainda que lembrar daquelas cenas absurdas de policiais nos morros do Rio, entrincheirados ou tocaiados em becos, segurando fuzis de assalto e com os dedos firmes nos gatilhos, descarregando pentes e mais pentes de projéteis 7.62mm contra barracos do morro. Não seria mais eficiente um atirador de elite ali? Aquelas balas perdidas, o esforço inútil e patético de fazer barulho para a imprensa filmar e dizer ao público “Olha, nós respondemos ao fogo. Estamos fazendo alguma coisa, Brasil”.
Alguém tem que pensar no perigo em potencial para cada um dos moradores, dos transeuntes e dos próprios policiais. Não seriam já boas razões para se posicionar um policial bom, com uma H&K preparada, com meia-duzia de cartuchos, que para cada tiro eliminaria um atirador?
Falando em favela e barracos, dentre as esquisitices que um deslocamento de tamanha importância acarreta, dois barracos de uma favela próxima tiveram que ser demolidos. Pergunto-me por quê.
Será que um terrorista da Al-Qaeda poderia estar pensando em pedir a um dos moradores para passar uma noite ali, num dos barracos, trazer duas malas cheias de TNT como bagagem, e derrubar um prédio aqui no Brasil também? Acho que não, né! Com média de oito moradores por barraco ficaria difícil acomodar mais um e ainda duas malas grandes.
Será que era porque ficava feio, que resolveram tirar os barracos? Será que barraco deixa a cidade feia? Então Bush vai ficar muito insatisfeito, pois existem outros milhares de barracos defronte à janela dele, na suntuosa suíte do maravilhoso hotel na Av. Luís Carlos Berrine, onde se hospedará. Não, não acho que seja por estética que tiraram os dois barracos defronte ao hotel. Talvez seja por medo que as duas famílias que ali moravam causassem algum constrangimento ao presidente yankee. Já imaginou? Uma dúzia de magrelinhos de pés descalços gritando slogans? “Go Home Mr. Bush!”, “Abaixo a ALCA!”, “Abaixo os governos capitalistas neo-liberalizantes e sua influência anti-social imperialista!”. Não... Não acho que isso seria plausível de acontecer.
Seria porque lugar de gente morar é em casa e não em barraco numa via pública ou num terreno grilado e o governo estaria enfim, dando alguma dignidade a essas famílias, emprego e renda suficiente para que comprassem uma casa, com juros baixos financiados, que gerariam impostos e empregos no comércio e na indústria civil? Ridículo! Essa hipótese é a mais absurda de todas. Esquece...
Sem entender por quê despejaram as famílias fico então imaginando o que disseram para os favelados daqueles dois barracos. Quem foi, ou melhor, como foi que se dirigiram aos moradores?
— Escuta, vocês vão ter que sair. (diz, vamos supor, um PM)
— Heim? (diz a moradora, com a criancinha de colo mamando numa teta murcha)
— Vão ter que se mandar daqui. O Bush vai chegar!
— O bicha?
— Olha lá! Sem desacato! Senão desço o cacete!
— Por que moço?
— Porque eu to mandando e quando a otoridade manda cêis obedece! Vamo, circulando!
— Quem é que vai chegar?
— Já falei. O Bush!
— Quem é esse?
— O presidente!
— Mas não era o Jucelino?
— Que Jucelino, madame?
— O presidente do Brasil.
— Não. O presidente do Brasil é o Lula, positivo!
— Ah! O Lula vai chegar?
— O Lula não. Eu falei que o Bush vai chegar, positivo!
— Esse Bush que mandou tirar a gente daqui então?
— Não. Quem mandou tirar vocês daí foi o Lula mesmo.
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