Depois de mantê-los incógnitos ou de me acostumar a usar os sites alheios, não vejo, enfim, porquê não publicá-los (e se não tinha feito isso até agora foi por pura preguiça).

Sempre que escrevia uma crítica ou crônica, invariavelmente, se não fosse publicado pelos pequenos jornais de minha cidade, ficava guardado no meu HD. São vários textos que tenho e que, por falta de oportunidade ou por não me dispôr a lidar com eles num blog, ficaram guardados até agora. Tomo então a inciativa de dar-lhes luz e publicidade através da internet.

Tenho resenhas de livros também, mas não vejo ainda oportunidade de incluí-las aqui. Continuam espalhadas por sites afora.

Quanto aos contos, são prativamente a razão disso tudo. Depois de algum tempo escrevendo para o Leia Livro, site mantido pela Secretária de Estado da Cultura, de São Paulo, creio já ter amadurecido bastante para tentar manter, por minha própria iniciativa, um blog literário que suporte meus textos curtos.

Textos longos mantenho no meu outro blog, criado exclusivamente para divulgar os livros de minha saga de fantasia A Fome de Íbus, cujo primeiro livro, o Livro do Dentes-de-Sabre, pode ser adquirido pela internet.

Tomo a liberdade de, às vezes, incluir textos que pertençam a terceiros (o que contraria frontalmente a proposta original deste blog. Fazer o quê? Farei isso quando achá-los tão bons e oportunos, que se torne premente sua divulgação ante meus próprios dogmas). Cometerei esta indiscrição alegremente, descaradamente e sem dó, disseminando suas idéias e inteligência. Vou logo pedindo licença e perdão aos autores.

Assim, sem encontrar mais oposição (minha própria), que justique o contrário, nasce o Charranspa (que não significa nada além de ter sido um dos meus apelidos de infância).

Tomo este meu velho pseudônimo como tema e batizo este espaço.

Está feito.

Albarus Andreos

Junho de 2007.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Meu romance de fantasia: A Fome de Íbus

Albarus Andreos
30/ 03/ 2007.

Dizem que “cada uma das pessoas que leu “O Senhor dos Anéis”, de J. R. R. Tolkien, acabou por escrever um livro...” São chamados de “Filhos do Anel”, mas se assim fosse, estaríamos atulhados de livros de Fantasia aqui no Brasil também, mas onde estão? Eu adoraria vê-los? Onde estão, afinal?

Na verdade, tal declaração é preconceituosa. Impingiu-se à Fantasia um selo de baixa qualidade, voltado a leitores pouco exigentes. Os “exigentes” consideram “sua literatura” a única literatura que pode ser assim identificada. Preconceito!

É interessante como o gênero é importante no mundo, e gera bilhões de dólares, leva milhões aos cinemas, incluindo no Brasil e mesmo assim, as editoras nacionais vêem com maus olhos a literatura fantástica. Porém há algumas poucas, como a Rocco, que investiu em vários autores estrangeiros, lançando-os por aqui em edições de ótimo gosto, como Terry Goodkind, com seu “A Primeira Regra do Mago”, Licia Troisi, com “As Crônicas do Mundo Emerso”, Christopher Paolini, com seu “Eragon”, já em filme também e cujo segundo volume da trilogia “Eldest”, encontra-se disponível também no Brasil. Falta agora os autores nacionais, evidentemente.

Quando criança existia uma discriminação grande contra o famoso gibi, nome genérico das revistinhas em quadrinhos, advindo dos idos de “Bolão, Reco-Reco e Azeitona”, e que mesmo em época de “Turma da Mônica” e “Pato Donald”, continuou a se chamar assim. Mas eu lia e lia muito! O gibi se tornou ‘graphic novel’, seus desenhistas e argumentistas foram reconhecidos como grandes artistas e hoje escrevem livros e fazem filmes que são lidos, entusiasticamente, em todo mundo. Posso citar dois de imediato: Neil Gaiman e Frank Miller.

As editoras se esquecem que as crianças que liam gibi cresceram, e não mudaram seu gosto, apenas expandiram seus horizontes. Gostam de mais coisas agora, mas não se desgosta de algo por se ter amadurecido. Pelo contrário, os antigos temas se transformam em raízes e frutificam quando o indivíduo amadurece. Quem assistia ao desenho animado “Caverna do Dragão”, quando criança, cresceu gostando de Fantasia.

Será que Fantasia não vende? Não é necessário refletir muito para ver que sim. E o brasileiro também gosta de Fantasia. É fato!

A despeito de tudo isso, escrevi um livro de fantasia, que iniciou-se ainda na época de faculdade de engenharia, antes que a febre do filme de Peter Jackson se alastrasse além da Terra-Média. Li “O Senhor dos Anéis” alguns anos depois, e não nego sua influência. Meu livro, contudo, é mais sombrio. Não há “Hobbits bonzinhos” (parafraseando Gollun). Narro a procura empreendida por um guerreiro atrás de sua antiga natureza rústica que o inseria dentre os seus, mas que acabou se perdendo quando foi à civilização lutar nas guerras que assolavam o mundo de então. Isso é a essência da saga. Contudo, é apenas o pano de fundo e a forma como os leitores poderiam entender sua busca por um “coração, que fora arrancado de seu peito” (imagem recorrente na forma como, em sonho, o herói Karizem, do clã do cavalo fantasma, vê-se sendo devorado por um dragão).

O que o leitor vê, em primeiro plano, é o grupo de aventureiros que vai aos poucos se organizando e inicia a sua busca (nesse primeiro livro, que é apenas o inicial da saga dividida em quatro livros, todos já prontos).

No “Livro do Dentes-de-Sabre”, expõem-se vários mistérios e enigmas, já que cada um dos personagens traz estranhos e sombrio passados. A resolução destes mistérios é que leva a elucidação do que seria a Fome de Íbus, só completamente descortinada no último volume da série. Até lá o leitor terá que roer as unhas e amaldiçoar o fato de que a história foi dividida em quatro livros a serem lançados separadamente. Conta-se aqui um primeiro segredo, que é exposto através do atrapalhado mago Tellor, cujo passado é revisitado sem que deseje, quando o grupo procura ajuda numa cidadela de necromantes para salvar o líder Karizem, acometido por moléstia incurável, contraída numa renhida luta contra vampiros.

Ali, o grupo conhece o poder dos Loders de Tull Saitanes, e o vaticínio do cavalo fantasma se realiza. Karizem se revela o homem a quem fora destinado pôr um fim a Fome de Íbus e aos seus malefícios.

Não há paralelo aqui com o Senhor dos Anéis. A história segue à parte do que foi escrito por Tolkien. E se o leitor procurava uma história com cavaleiros, elfos, espadas e magia, ele vai encontrar. Contudo, é melhor abster-se de esperar por um final de fácil dedução. Não é. Cada fato na trama está entrelaçado e habilmente conduzido até um final surpreendente (não ouso usar esta afirmação apenas como clichê). Contudo, ela apenas virá no final do quarto livro. E o dragão existe, de fato!

Publique seu livro no Lulu.com

1º Post da Coluna no LL (não publicado)
Albarus Andreos
29 de março de 2007.

Há algum tempo, inseri aqui mesmo no Leia Livro uma boa sugestão para aqueles que desejam publicar seu livro. Relembrando...

Chega uma hora em que os originais, dentro daquela gaveta, não podem mais permanecer sem luz. Eles gritam para sair de lá, seja de que forma for. Seu autor não consegue mais mantê-los longe, acaba por escutar seus apelos e, somando-se a isso o sentimento de exclusão a que foi submetido pelas editoras que não quiseram publicar sua obra, acaba sucumbindo a pressão de arcar com as custas de uma edição inicial bancada com o dinheiro suado da poupança (ou do carro, que é vendido e substituído por um “pois é” qualquer). Pagará para ter seus livros em papel ou morrerá tentando, numa guerrilha contra o mundo, e é bem capaz de falir com mil exemplares de sua tão querida obra servindo de calço para os móveis velhos ou forrando a gaiola do periquito.

É aí que entra o site de “auto-publicação” denominado www.lulu.com, de origem norte-americana. No Lulu, você usa os mesmos processos de publicação por demanda, tão conhecidos mas, devido a natureza de tais equipamentos de impressão (muito semelhantes a grandes impressoras, como essa que você tem ao lado de seu micro), não há a necessidade de se comprar toda uma tiragem inicial de centenas de cópias, valor que varia muito de uma editora para outra, bem como custos de produção e outros detalhes.

No Lulu, você é totalmente responsável pela qualidade de seus originais, quanto a edição do livro. Ou seja, não há especialistas corrigindo erros, diagramando, trabalhando com arte final de capa etc. Tudo é feito por você mesmo usando os incontáveis tutoriais em forma de FAQs (Frequently Asked Questions). Deve-se saber inglês para acompanhá-los todos, mas eles estão também disponíveis em outras línguas, como francês, alemão e espanhol (a saída para alguns brasileiros, já que não há nenhum em português). Depois de tudo feito, os originais ficam então por conta do site, que os imprime e transforma num livro real de papel (e ainda tem versão eletrônica, se você assim desejar), como aquele que você tanto sonhou!

Até aqui, já havia reportado antes, no post do LL em que muitas pessoas colocaram seus comentários. Contudo um fato novo surge: meu livro de prova finalmente chegou!

É lindo! Cheiroso! Com o peso que sonhei. Páginas levemente amarelecidas, como queria. Rigorosamente diagramado como eu mesmo fiz. Capa com uma ligeira perda de qualidade com relação a gravura que eu mesmo fiz (90% boa, contudo!). Demorou três semanas para chegar (Livro feito na Espanha), muito menos que eu imaginava, à princípio. Tenho agora que revisar esta cópia de prova e então corrigir o que ficou faltando no próprio site. Depois dou o sinal verde e o livro estará disponível para venda. Pagando pouco mais de US$ 90,00 o livro receberá ISBN e estará disponível para ser comprado no Amazon.com, na Barnes & Noble, Borders e até no site da Livraria Cultura!

Mas, com todas essas vantagens, por que não existe este tipo de serviço aqui mesmo no Brasil? Existe meu amigo! Aguarde novidades...


Albarus Andreos.

O Lulu.com brasileiro!

Por Albarus Andreos
em 20/ 03/ 2007
(para o site de publicação por demanda Booklink)

Ao Booklink.

Boa tarde.

Sou autor e há muito procuro uma forma de poder publicar minha obra. As editoras tradicionais foram unânimes em recusar-me. As editoras por encomenda sempre cobraram absurdos por tiragens que nunca eram menores que 300, 1000 livros e você ainda tinha que se virar para vender. Até que descobri o site lulu.com, que pareceu ser o fim de minha angústia.

Por uma semana li todo material que eles dispõe em forma de FAQs. Ensinam até cachorro a latir... Dentre o material disponível para leitura, há uma grande quantidade de matérias publicadas em tudo quanto é jornal do mundo, notícias em revistas e mesmo em TVs. Alta divulgação! Há milhares de livros disponíveis no site para se conferir que o site é sério. Livros em inglês, japonês, alemão, português... Deu para pegar confiança, então... Só faltava ver se funcionava.

Não posso negar minha alegria em ver que finalmente poderia ter minha obra em papel, nas mãos de um leitor, com ISBN e tudo, vendendo pela Amazon.com e Barnes & Noble, dentre outras (vi até livros do Lulu no site da livraria Cultura). Segui o tutorial deles, muito bem feito, com desenhos e diagramas fáceis de entender, embora em inglês, e em poucos passos meu livro estava pronto para publicar.

Já há duas semanas encomendei minha cópia de prova. Aí apareceram dois grandes problemas:

1) o preço final para o comprador, depois de se incluir o frete, sobe aos céus e

2) o prazo de entrega é enorme! Nada que pudesse me desanimar, pois afinal, teria enfim meu livro publicado.

Contudo, expus o fato para o site do leia livro (www.leialivro.com.br) e lá esse assunto ganhou vulto. Muita gente achou enfim que teria seu livro publicado, afinal. O Lulu.com vinha para arrebentar. Então, hoje vi que uma pessoa inseriu um comentário falando de um certo site chamado Booklink. Entrei aqui e após uma hora, me pergunto.

POR QUE VOCÊS NUNCA DERAM AS CARAS ANTES?

Não sei se fico alegre ou se fico irritado. Ao que parece, o serviço que vocês fornecem é bem similar ao do www.lulu.com , só que os pontos ruins 1) e 2) foram removidos, sendo substituídos por algumas taxinhas de R$15,00 que cobram para converter para PDF (!) e outra para “não sei o que”.

Escrevo-lhes este e-mail, até por desencargo de consciência. Venho pedir que você diga que existe de fato e que é sério! Por que não há divulgação de seu serviço? O que são aqueles “parceiros” que parecem num link e há quanto tempo está no mercado (só para começar)? Depois vou perguntar muito mais e pediria que, se possível, entrasse no site do LL e incluísse seu próprio depoimento a respeito de seu trabalho. Entre em: Novidades/ Debates e Opiniões/ Em Busca do Sonho Impresso, de minha autoria. Por favor, nos dê o ar de sua graça.

Muito obrigado.

Albarus Andreos.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

O Devoto e o Anjo da Morte

Albarus Andreos
Março de 2007.

Escrevo o que me ocorreu há muito tempo. Tinha o quê? Nove ou dez anos. Brincava perto dos trilhos como mamãe sempre dizia para não fazer. “Prometa que não vai lá, perto dos trilhos brincar” Ela dizia. E eu nada.

Um dia aquele homem veio. Conhecia-o de ouvir o nome. Seu Sérgio. Claudicava pelas pedrinhas. Senti o cheio de cachaça de longe. Então, não sei como, prendeu o pé nos dormentes, bem na linha que passava à minha frente. Fiquei ali olhando em silêncio o homem praguejar, se desequilibrar, puxar o pé. Puxa de lá e de cá. De alguma forma estava preso nos trilhos.

Ele olhou pra mim. Puxou. Gesticulou. Xingou. Olhou de novo. Uma, duas vezes. Seus olhos vermelhos de pinga. Chocalhou de novo a perna. A calça escura e larga demais. Tentou tirar o pé e deixar a botina presa nos trilhos. Nada. Sacou um relógio dourado do bolso. Olhou de novo pra mim. Parecia estar ficando nervoso. Seu queixo tremeu. “Você é o Anjo, não é? Sei que é”. Parei de brincar com as pedrinhas e fiquei duro. Ele começou a falar. Respirava forte.

Desde que casara com Neida só queria um pouco de paz. Viúvo que era, não imaginava que fosse ter tudo ao contrário.

Neida era viúva também. Cabeleireira com uma filha de dezesseis anos. Aos dezoito, a vagabunda fugiu. Ainda aos dezoito retornou. Grávida, de barriga de gêmeos.

As duas menininhas só tinham três quando ela sumiu de novo. “Nos deixou as gêmeas para cuidar”.

Seu Sérgio atirou no chão o maço de cigarros. “Diga lá a Nossa Senhora que se me livrar de ti, eu paro com o vício de fumar”. Olhou para mim, e eu duro.

Um ano depois a moça voltou. Trazia outra menina. No colo desta feita. “Não pude agüentar. Com todo o prejuízo que aquelas outras duazinhas já nos causavam?”. Tive a impressão de sentir os trilhos tremerem debaixo dele. Talvez um apito. Seu Sérgio parou de falar e retirou uma garrafinha do bolso de trás. Olhou de novo o relógio e, tremendo, espatifou o vidrinho no chão. “Diga lá. Peça à Virgem que me perdoe, e eu paro de beber”. Senti então um tremor leve. Um ruído que me fez olhar para o horizonte. O trem vinha.

“Mais uma para criar? Pois as pequenas já não chamavam Neida de mãe e essa aí de tia? Não podia agüentar. Disse que não cuidaria de mais uma. Neida disse que ia levá-la ao médico para esterilizar. Melhor que fosse embora e que levasse os trastezinhos junto. A menina chorava, mas ela não dava nem bola. Eu não pegava. Dizia: “Neida, não pega. Não pega senão acostuma”. A Neida não pegava. Não agüentava mais aquele choro. Melhor dar para alguém criar. Eu que não gastava nem um tostão com ela.”

Seu Sérgio então passou a mão no rosto. Apoiou-se nos joelhos ofegante. Abriu a carteira. O apito do trem fez com que eu me afastasse. Ele tremia muito e de dentro retirou um pedacinho de plástico azul, jogou no chão num gesto largo. Eu era muito novo para saber o que era uma camisinha, mas o velho disse. “Eu sempre respeitei a Neida, mas a carne é fraquinha, sabe como é... Mas olha! Nunca trouxe doença pra ela”, apontou para o saquinho. O velho parecia não entender que falava com um pequeno. “Peça à Virgem de Aparecida que me perdoe. Peça que ela perdoa. Não me leva!”. O trem aprumou ao longe. Ele vinha surgindo do São Cristóvão, como sempre. Ele passaria e iria para o Itaí das Moças, como sempre. Um apito forte soou, antes da árvore, como sempre.

Seu Sérgio recomeçou a puxar o pé, com urgência. Achei que choramingava enquanto dizia mais coisas sem sentido. Acho que pensava que ia morrer.

“Minha Nossa Senhora! Sou seu fiel devoto, santinha. Eu prometo... Se me poupar. Eu... nunca mais faço aquilo de novo. Não toco mais na moça. Ela tinha ido embora... Não devia. Eu me arrependo. Me perdoa!”

Mamãe me fez prometer que eu não ia mais brincar nas pedrinhas. O trem veio, como sempre. Sei Sérgio gritou. O trem passou, como sempre, na linha de lá. Não na de cá, onde ele estava... Como sempre!

Seu Sérgio se levantou. Tinha caído com o vento e seu pé tinha se soltado. Ele balbuciava, branco como cera. Depois de algum tempo limpou o rosto e ajeitou o cabelo oleoso. Olhou para mim, de boca aberta, com olhar de bicho triste. Num momento parecia que ia chorar, no outro parecia ter raiva. Mirando o chão parecia querer achar os cigarros ou o “plástico” azul. A ventania tinha levado tudo. Tinha desarrumado as roupas dele também. Os matinhos em redor se agitando ainda, como sempre.

Então virou a cara e se foi, tropeçando, quieto, humilhado. Suas calças largas estavam molhadas.

Ele tinha feito muitas promessas naquele dia e eu finalmente prometi à mamãe que não brincava mais nas pedrinhas do trem.

Presidential Entourage

Albarus Andreos
em 08/ Março/ 2007

Não sei se deveria colocar isso aqui em ficção ou na seção de não-ficção, talvez ficasse bom numa seção Cotidiano, mas vamos lá. É com grande “orgulho que recebemos a visita de um homem extremamente odiado no mundo. Ops! Não sou eu quem o odeia, calma! Só estou falando a respeito dos números que vi recentemente na mídia a respeito da visita de Bush Jr. ao país.

Um chefe de estado estrangeiro ao Brasil, não deveria, mas suscita reflexões. Veja só: cinco mil agentes de segurança (guarda-costas), dentre militares e policiais brasileiros e agentes da CIA, americanos. Nada menos que cinco quarteirões ao redor do hotel da Presidential Entourage serão fechados para qualquer movimento (ninguém entra/ ninguém sai). Atiradores de elite serão colocados no topo dos prédios... Pera aí. Pera aí... o que vai ser colocado no topo dos prédios? Atiradores de elite? Isso existe mesmo?

Onde ficam esses sujeitos quando vemos aquelas cenas de assaltos a bancos ou ônibus, com reféns, onde o meliante fica com uma arma na cabeça de uma vítima? O cara fala, fala, fala... se meche para todo o lado, tira a arma, põe a arma (com o risco dela disparar e matar a vítima), anda, volta... e nenhum atirador de elite está ali para meter uma bala na cabeça do criminoso. Não falo aqui em pena de morte, não é absolutamente o caso, mas atirar num potencial assassino que numa fração de segundos pode pôr fim a vida de uma dona de casa ou de um trabalhador, já é razão suficiente para mandá-lo para a “Terra dos pés juntos”. Muitos, aliás, já não são mais “potenciais assassinos”, tendo fichas criminais que incluem dentre estelionato a chacinas, mesmo. Bandidinho chulé não assalta banco. Isso é para os profissionais, e bandido profissional só ganha a carteira do PCC depois de matar e torturar.

Sobre atiradores de elite, temos ainda que lembrar daquelas cenas absurdas de policiais nos morros do Rio, entrincheirados ou tocaiados em becos, segurando fuzis de assalto e com os dedos firmes nos gatilhos, descarregando pentes e mais pentes de projéteis 7.62mm contra barracos do morro. Não seria mais eficiente um atirador de elite ali? Aquelas balas perdidas, o esforço inútil e patético de fazer barulho para a imprensa filmar e dizer ao público “Olha, nós respondemos ao fogo. Estamos fazendo alguma coisa, Brasil”.

Alguém tem que pensar no perigo em potencial para cada um dos moradores, dos transeuntes e dos próprios policiais. Não seriam já boas razões para se posicionar um policial bom, com uma H&K preparada, com meia-duzia de cartuchos, que para cada tiro eliminaria um atirador?

Falando em favela e barracos, dentre as esquisitices que um deslocamento de tamanha importância acarreta, dois barracos de uma favela próxima tiveram que ser demolidos. Pergunto-me por quê.

Será que um terrorista da Al-Qaeda poderia estar pensando em pedir a um dos moradores para passar uma noite ali, num dos barracos, trazer duas malas cheias de TNT como bagagem, e derrubar um prédio aqui no Brasil também? Acho que não, né! Com média de oito moradores por barraco ficaria difícil acomodar mais um e ainda duas malas grandes.

Será que era porque ficava feio, que resolveram tirar os barracos? Será que barraco deixa a cidade feia? Então Bush vai ficar muito insatisfeito, pois existem outros milhares de barracos defronte à janela dele, na suntuosa suíte do maravilhoso hotel na Av. Luís Carlos Berrine, onde se hospedará. Não, não acho que seja por estética que tiraram os dois barracos defronte ao hotel. Talvez seja por medo que as duas famílias que ali moravam causassem algum constrangimento ao presidente yankee. Já imaginou? Uma dúzia de magrelinhos de pés descalços gritando slogans? “Go Home Mr. Bush!”, “Abaixo a ALCA!”, “Abaixo os governos capitalistas neo-liberalizantes e sua influência anti-social imperialista!”. Não... Não acho que isso seria plausível de acontecer.

Seria porque lugar de gente morar é em casa e não em barraco numa via pública ou num terreno grilado e o governo estaria enfim, dando alguma dignidade a essas famílias, emprego e renda suficiente para que comprassem uma casa, com juros baixos financiados, que gerariam impostos e empregos no comércio e na indústria civil? Ridículo! Essa hipótese é a mais absurda de todas. Esquece...

Sem entender por quê despejaram as famílias fico então imaginando o que disseram para os favelados daqueles dois barracos. Quem foi, ou melhor, como foi que se dirigiram aos moradores?

— Escuta, vocês vão ter que sair. (diz, vamos supor, um PM)

— Heim? (diz a moradora, com a criancinha de colo mamando numa teta murcha)

— Vão ter que se mandar daqui. O Bush vai chegar!

— O bicha?

— Olha lá! Sem desacato! Senão desço o cacete!

— Por que moço?

— Porque eu to mandando e quando a otoridade manda cêis obedece! Vamo, circulando!

— Quem é que vai chegar?

— Já falei. O Bush!

— Quem é esse?

— O presidente!

— Mas não era o Jucelino?

— Que Jucelino, madame?

— O presidente do Brasil.

— Não. O presidente do Brasil é o Lula, positivo!

— Ah! O Lula vai chegar?

— O Lula não. Eu falei que o Bush vai chegar, positivo!

— Esse Bush que mandou tirar a gente daqui então?

— Não. Quem mandou tirar vocês daí foi o Lula mesmo.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

E então Deus criou o Lulu.com...

Por Albarus Andreos
em 07/ 03/ 2007 (para o site Leia Livro)

É difícil dizer se enfim encontrei a solução que nós, autores iniciantes, esperávamos. Nunca tinha ouvido a respeito, contudo. Uma leitora portuguesa do meu blog (www.albarusandreos.blogspot.com) que deu a dica. Não botei fé de início, mas chequei e vi inúmeras reportagens em revistas e jornais do mundo todo falando a respeito (estão lá no site deles pra vocês lerem). Chequei que há milhares e milhares de pessoas que já publicaram usando dessa modalidade (inclusive alguns brasileiros que não abriram essa saída pra gente!), e finalmente, constatei que muitos publicam lá, por não terem tido a tal oportunidade de uma editora tradicional, mas acabaram sendo reconhecido depois disso e tendo seus livros publicados por elas (tão odiadas e tão desejadas, editoras tradicionais!!!).

Trata-se do site de “auto-publicação” Lulu.com.

Não é o método tradicional, em que a editora se encarrega de pagar pela tiragem do livro, nem o método que algumas editoras usam de simplesmente cobrar por todo o processo e entregar os livros na sua mão para você vender (do jeito que imaginar e/ ou puder). No lulu (www.lulu.com), você segue alguns passos muito simples, como dar o nome da obra, escolher dentre diversos tamanhos de encadernação, escolher um pseudônimo, enviar os originais por upload, configurar uma capa legal, etc e assim você vai construindo seu livro real. No final, você opta por colocá-lo à venda no próprio site do Lulu, ou disponibilizá-lo globalmente, podendo inclusive vender pela Amazon.com e Barnes and Noble!!!

Onde o site ganha o dinheiro se tudo é de graça? Qual a tiragem mínima? As duas perguntas tem respostas interligadas. NÃO HÁ TIRAGEM MÍNIMA, ou melhor, a tiragem mínina é de um (0000001) exemplar!! Tirando uma cópia que você tem que comprar (uma cópia de prova, e você vai estar louco para isso!), para ver seu projeto realizado e fazer modificações necessárias que não pôde no "walk-thru" (embora esteja tudo muito bem explicado), você não tem que pagar mais nada!! Depois disso é aprová-lo (ou fazer alterações, o que gera a necessidade de comprar nova cópia de prova) e esperar as vendas.

O ganho do Lulu (o que mata é esse nomezinho, não?) vem de cada exemplar que você vender: 20%. Quanto mais você vender, mais eles ganham, mas sempre 20% dos lucros. Você tem ainda a opção de comprar um número ISBN e código de barras (um gasto extra, mas não obrigatório que soma mais ou menos U$100,00) e permitir que a lulu.com seja seu “publisher” (seus direitos de autor continuam sendo os mesmos 80% do lucro = preço final do livro - custos de produção) e assim vender seus livros pelos sites de venda on-line como a Amazon.com etc. Há a possibilidade de seu livro ser colocado em prateleiras mundo afora também (sim, seu livro numa prateleira, numa livraria!!!!!). Há tantas vantagens nesse método de publicação que fiquei vários dias tentando achar onde é que eu ia me estrepar. Li tudo o que deu lá no site (e olha que tem FAQ até para te ensinar a ligar o computador (exagerando... heheheh). Três coisas não são boas:

1) O que pega um pouco é o preço do frete dos States ou UK para cá (mas ele diminui bastante quando o livro é comprado não no “Marketplace” do lulu.com, mas na Amazon ou na Barnes & Noble, por exemplo, que possuem métodos de manejo de encomendas próprios, que torna o preço mais competitivo e os prazos de entrega menores). No final, fazer seu livro no lulu e um comprador trazê-lo para o Brasil (salientando que qualquer leitor do português poderá também ser seu leitor em potencial, não só brasileiros!!!), pode sair por preços similares aos praticados nas livrarias ou sites como Submarino ou Livraria Cultura)

2) O tempo até o livro chegar pode levar até uns vinte dias (o que ainda não comprovei, já que acabei de solicitar a cópia de prova do meu primeiro livro).
3) Há a necessidade de pagar algo ao governo americano pelo fato de seus livros serem impressos lá e os recursos saírem do país depois. O máximo é 30% da sua parte, mas isso muda de país para país, e depende dos contratos vigentes entre o Brasil e os EUA (que eu ainda não sei...)

Desvantagens mínimas para quem estava até há pouco isolado no limbo dos "autores recusados pelas editoras".
É um paraíso!!!
Não custa nada dar uma olhada lá (repetindo: www.lulu.com). Tem que saber inglês, Ok! O que está esperando?

So-le-tran-do

Por Albarus Andreos
em 28/ 02/ 2007.

Bom dia, pessoal,

Costumo criticar bastante o comportamento das editoras quanto ao melhor aproveitamento de autores iniciantes. Ao novo autor só será dada maior atenção, quando os autores consagrados venderem mais; quando a literatura vender mais.

Críticas devem ser assimiladas tanto quanto o possível, eliminando-se o chororô e aproveitando-se o que de construtivo tiver. Numa delas, disse que as editoras não deveriam se bastar com os incentivos fiscais concedidos à atividade editorial e que, resumidamente, deveriam correr atrás dos leitores como faz a industria do tabaco, comemorando “cada alma conquistada”.

Teremos, a partir do próximo final de semana, a estréia na Rede Globo do programa Soletrando. Nele, Luciano Huck vai nos mostrar o que, há muito tempo, é mania nos Estados Unidos, com igual cobertura nacional.

Vejo uma oportunidade de ouro aí. Pela propaganda do programa que vi, autores, lingüistas e outros profissionais da língua, funcionarão como “banca” para os meninos e meninas em idade escolar que testarão suas habilidades, soletrando palavras escolhidas com cuidado. O prêmio: uma poupança de cem mil reais!

É um concurso importante! Tem autor tentando se fantasiar de estudante para poder abocanhar um prêmio desses. E também é uma grande oportunidade para grandes editoras fazerem o merchandising de livros. Será que farão?

Olha só... Um programa voltado para a língua portuguesa, com a participação de gente que inevitavelmente falará de cultura, livros e educação e blábláblá. Mas tenho a impressão que só a Skol, a Fiat e as Casas Bahia vêem oportunidade de divulgação de suas marcas aí.

Tá legal, o preço do horário deve ser absurdo! Mas estou falando apenas de autores consagrados, por enquanto. De livros que se espera vender centenas de milhares de cópias. Não precisa ser um comercial de minutos... (Mas o Tony Belloto lá, entrevistando um Fernando Morais, um John Grinshan ou um Bernard Cornwell, durante três minutos não seria mal, não é?). Será que as editoras não podem incluir aquelas entradas oportunistas em que o apresentador segura o livro por uns segundos e fala pro povão sobre ele? Será que não dá pra incluir uma Rocco ou Cia. das Letras lá atrás, num banner enfeitando o ambiente? Será que o fundo do palco não poderia conter grandes cartazes de capas de livros atuais que se desejaria divulgar? Sendo o autor consagrado, um grande interessado na divulgação de suas obras, não poderiam eles próprios arcarem com parte desta divulgação, junto com as editoras? Será que esse papo de que “um grande incentivo a literatura nacional” seria dado, não funcionaria e as Organizações Marinho, até abririam uma brechinha e exibiriam livros em estandes e os dariam de brinde aos moleques, citando o título, autor e editora apenas? Alguém tentou pra ver?

Fica a sugestão.

Fantam culhões...

O tão celebrado Daniel Galera é para mim um exemplo. Não por idolatrá-lo, como faz o mercado editorial, mas porque vejo nele um espelho. Se hoje ele é publicado pela Cia. das Letras, não foi sem ter passado o martírio de todo autor iniciante, suponho. A Livros do Mal, editora que fundou com mais alguns sócios não teria sido fundada exatamente por não terem achado quem quisesse publicá-los?Daniel não se ferrou pra caramba correndo de editora em editora pedindo que lessem seus originais, antes de chutar o pau da barraca e resolver ele próprio fundar uma pequena editora destinada a publicar seus escritos? Não utilizou da internet para se divulgar e tentar chamar a atenção sobre seus textos?Um dia vou perguntar para ele. Mas acho que Daniel entrou na cova dos leões e refestelou-se! Encheu a pança com as feras...

Por Albarus Andreos
em 26/ 02/ 2007 (como resposta a um post no site Leia Livro).

Crítica às editoras quanto a novos autores

Jeferson, não ia responder a esta enquete, pois as vezes fico até cansado de tentar defender minha posição de “novo autor”, me sinto simplesmente um chato (e autor chato é o que faz com que as editoras tenham o maior “pé-atrás” com novos autores).

O fato de ser sempre recusado me leva a advogar em causa própria e perder um pouco da objetividade da coisa. É óbvio que autor iniciante não é sinal de boa coisa (sem generalizações, por favor!). Autor iniciante não tem ainda o traquejo da mão, põe coisa demais e menospreza coisas essenciais (não falo de poesia pois sou ignorante para tanto). Autor iniciante escreve sobre o que gosta e às vezes gosta muito. Isso significa, quase sempre, que ele vai escrever só para si (não, isso não é o que importa, como muita gente pensa!!!!). Explico: quando o autor escreve "só para si", deve deixar o escrito muito tempo na gaveta e ler todo dia. Conforme amadurecer, lendo o que outros autores escrevem “para todo mundo” (e não para si), vai perceber que um artista (sim, autor iniciante é artista também, como não?) precisa de público.

Um artista não é ninguém sem o aplauso! Não se basta sem admiradores, sem comentários positivos, sem ganhar benefícios (inclusive, por que não, grana!). Artista quer externar seu modo de pensar, sua criatividade, seu modo de ver as coisas, sua história, mas já que externar significa tornar público, então ele não pode querer escrever só para si próprio, pois deve querer contribuir com o mundo ao redor. Se quer ser bom só para si, deve deixar o papel na gaveta mesmo e passar a vida deleitando-se em particular, sem a necessidade de torná-lo público.

Em arte abstrata (não vou me ater muito ao que não entendo...) não há a necessidade de se entender o que se vê. Aquele quadro ridículo, muitas vezes lhe parece ridículo por que você não entende o que está vendo (e por mais que me digam o contrário, acho importante a reflexão e conseqüentemente a absorção do que vejo. Se não entendo, não volto mais naquela galeria pra ver aquilo pendurado na parede. Não gosto de me sentir burro. Tchau e benção!). Contudo, com literatura, não é bem assim. Acho que é por isso que não sou fã de poesia, pois se um sujeito escreve “com o mais íntimo de seu ser”, provavelmente vai ser o único a entender o que escreve. Outros verão o poema, mas não a "poesia". Só os mais iluminados são capazes de sentir o que o poeta sente (outros poetas, portanto). Por isso "poesia não vende".

Autor iniciante, se quiser deixar de ser iniciante e ser promovido a autor, tem, muito mais que os outros, que escrever "redondinho", simples e fácil. Pois ao contrário do que se pensa, o cliente do autor iniciante é a editora e lá não falta cérebros, mas culhões para fazer as apostas necessárias para que novos Dantes, Machados e Tolkiens surjam. A alegação das editoras é que os que “tinham culhões” morreram de fome. Preferem importar os Dantes lá de fora. Usam as bolas dos outros, entende? Um dia, o cara que guarda o manuscrito na gaveta, e depois de ter feito incontáveis mudanças no texto, acha-o bom. Resolve então publicá-lo. Continua a ser um autor iniciante... As editoras não estão nem aí para a qualidade. É isso que me mata! Senhores editores, se por falta de culhões, não apostam no novo, pelo menos usem o cérebro que têm e avaliem os riscos de forma mais racional. É necessário que se diga que sem isso estamos todos fodidos. Vamos continuar a ser o Brasil extremamente musical que os gringos gostam e nunca seremos capazes de afirmar a língua portuguesa como fonte de gênios literários.

Carta a uma Agente Literária

Por Albarus Andreos
em 09/ 02/ 2007.

Também escrevo sobre fantasia. Sou apaixonado por elfos, dragões e bruxos. Contudo meu livro não tem aceitação por nenhuma editora. Recentemente resolvi partir para um gasto maior de meu suado dinheirinho contatando uma agente literária (quem sabe poderia fazer por mim algo que eu mesmo já não houvesse feito). Minha surpresa foi a reação desta agente, após o primeiro telefone, quando disse que meu livro era de fantasia, ao estilo de "O Senhor dos Anéis" de Tolkien (ninguém diz que escreve romance policial "ao estilo de Sherlock Holmes, de Conan Doyle", mas se você não explicar o que é fantasia, nem um agente literário sabe o que é...). O texto que reproduzo abaixo vem de partes do e-mail que mandei pra ela:


"Olá Marisa,

Fiquei decepcionado. Não com você, em especial, mas com a situação toda. Você foi sincera, o que não poderia ser diferente. Você faz um tipo de trabalho, mas não faz milagre, não é? É necessário dizer ao cliente (ou possível cliente) coisas duras, às vezes. Acredito que ao ouvir (o pouco que foi), sobre meu livro já tenha visto que não dá. Mas deixe-me explicar melhor essa coisa de decepção...

De repente, depois de tantos “nãos” e “silêncios” de tantas editoras, ouvi isso também de uma agente literária que, teoricamente, trabalharia para mim. Seu trabalho seria exatamente convencer uma editora que valeria a pena me publicar, mas se nem você acredita nisso, então não tem jogo, mesmo. Nem pôs os olhos no meu livro e já sabe que não vai dar caldo. Isso ofende, mas sei perfeitamente que não é sua intenção. Sua experiência já lhe diz isso, Já conhece o que dá e o que não dá. De certa forma, isso já é bem definitivo e não precisei pagar por isso, não é? Obrigado. Entendo suas exigências e que já pode escolher o trabalho que melhor lhe convém. Agradeço por já dizer isso de início, e não ficar enrolando já sabendo que não dá. Poderia tirar alguma grana de mim usando de má fé, se quisesse. Foi através de muito trabalho que atingiu o patamar em que está. Por sua competência. É uma pena que não possamos trabalhar juntos.

Só não posso dizer que aprendi alguma coisa com isso. Que me convenci. Vou continuar tentando. Teimosia... Ou insistência, mesmo.

Após ter tido tantos gastos com uma obra que sequer chegou a ser publicada (leitura crítica, revisão editorial, beta-readers, impressão de dezenas de cópias e despesas postais para o envio a incontáveis editoras) houve ainda o desgaste emocional e o empenho de energia, inútil diante de tantas negativas e decepções. O papo com você não doeu tanto assim (que melodrama, não?). Só é difícil ver isso como realidade. Pra mim não é... Se vou aprender de alguma forma dolorosa, preciso pagar pra ver. Eu acho que dá certo.

Sou engenheiro, e a imagem do autor que faz tudo por sua obra, vendendo carro e apartamento para ver um sonho realizado está longe de meu tipo pessoal. Contudo, até concordaria em realizar gastos proibitivos, caso fosse necessário para a divulgação, propaganda ou para tornar meu livro um sucesso. Acho que se vende até geladeira para esquimó, se você for o vendedor certo, se usar os argumentos certos, se mostrar os pontos certos. Acha que com o Dan Brown foi diferente? Não precisa enganar ninguém, só tomar aquilo como desafio pessoal e profissional.

O mais próximo que cheguei de ser publicado foi um aceite condicional da Editora Novo Século, que na verdade consistia em publicação em parceria onde deveria arcar com gastos na ordem de doze mil reais com uma primeira edição, sendo que edições subseqüentes seriam por conta da editora, se fosse o caso.

Projetos em parceria estão fora de cogitação, por enquanto, embora a editora tenha me incluído no rol de “Novos Talentos da Literatura Brasileira” (nome da coleção em que me incluiria) aceitando a proposta de publicação com a Novo Século ou não.

Meu contato com você é porque, após quatro anos de espera basicamente infrutífera, volto a cogitar realizar mais gastos, sendo agora com a opção por um agente literário, que pudesse me mostrar caminhos mais diretos para a publicação de meu livro. Contudo, sua posição parece ser a de que isso seria desperdício de tempo e dinheiro, tendo em vista a temática do que escrevi. Seria por causa do nome em português? Imaginei que fosse, e por isso o livro foi registrado junto a BN e o mando para as editoras sob o pseudônimo de Albarus Andreos.

Teria mais perguntas a lhe fazer, mas confesso que fiquei perdido no telefonema. Sua posição parecia desconfortável em me recusar. Propus não fazer a sua leitura crítica, uma vez que já havia feito uma, mas a pergunta seguinte seria se além da leitura crítica (e a hipótese de ser aceito), teria outros gastos (além da porcentagem com a venda dos livros, mas aí já estaria vendendo. Um abraço!).

Relembrando: trata-se de obra de ficção do gênero de fantasia, ao estilo de “O Senhor dos Anéis” ou “o Hobbit” de J. R. R. Tolkien, com elfos, bruxos e dragões. Quatro livros, já prontos, que juntos formam a saga A Fome de Íbus, sendo que o primeiro livro é o Livro do Dentes-de-Sabre, com cerca de 300 páginas, sem contar adicionais como mapa e glossário dos termos, personagens e locais, já feitos."

Como podem ver, não é nada fácil convencer um agente a trabalhar seu livro de fantasia. Imagina convencer uma editora a publicá-lo.

terça-feira, 12 de junho de 2007

O Chorão - peripécias de um autor iniciante em busca de editora.

Carta à uma colega autora, no Portal do Leitor
em novembro de 2006.
Albarus Andreos
11/2006.

Querida, Janethe, veja só o imbróglio...

Depois de mandar cópias pra caramba (puta gasto de dinheiro com impressão e correio!), a Novo Século (aquela dos livros de vampiros), através de uma de suas editoras, me contatou e disse que meu livro tinha sido avaliado e que haviam gostado muito dele (fiquei animadíssimo...), mas que gostariam de ler os outros três livros que compõe a tetralogia (fiquei mais que fascinado) para ver como a história terminava, o desenvolvimento dos personagens, as pontas soltas etc. Mandei na hora. Afinal, tinham se interessado por publicar o livro e demonstravam interesse pelos outros três. Eu logo vi, em devaneio, a cena de estar sentado numa mesa autografando os primeiros exemplares, uau!

Passaram-se vários dias, quase dois meses (tempo que levariam para analisar o resto do material), entrei em contato novamente, ansioso que estava, e a Daniela, a editora, veio me dizer que meu livro integraria a Coleção "Novos Autores da Literatura Brasileira e que eu, concordando ou não em participar da Coleção, já era um Novo Talento e tal... Encheu minha bola! Falei com o Jonathan, que havia examinado o livro. Ele foi muito legal, começou a comentar sobre os personagens, disse ter ficado realmente empolgado com certas passagens e até falou delas para mim, por telefone. Disse que o livro era "muito bom", empolgante, que não dava para parar de ler (se segura Dan Brown!!!). Fiquei nas nuvens! Imagina! O analista de uma editora dizer isso pra você? Que legal que foi! Deveria aguardar mais alguns dias pela proposta que seria encaminhada por e-mail... e eu esperei mais.

Depois de mais alguns intermináveis dias (e noites), em que fiquei roendo as unhas (exigir profissionalismo para um iniciante é pedir demais...), veio a tal proposta... Veja só: eu seria "parceiro" na publicação do livro na primeira tiragem de 1500 exemplares, sendo que eu ficaria com 500 livros, embora pagasse todos eles. Numa nova reimpressão, a editora arcaria com todos os custos e o livro seria publicado de forma tradicional.

Deixa eu explicar só um detalhe: li o livro da professora, Laura Bacellar e também o da professora Sonia Belotto, onde ensinam, do alto de sua grande experiência no meio editorial, o que fazer e o que não fazer, o que aceitar, o que nunca aceitar etc., quando se trata de publicar sua obra. Uma das dicas é que a editora leva de três a seis meses para analisar seu trabalho. Se não obtiver resposta nesse tempo, significa que seu livro levou pau. Geralmente as editoras vão te mandar a cartinha padrão, que elas já tem salva lá no Word, dizendo que seu trabalho é bom, mas tchau e benção, não vão publicar.

E o que aconteceu com a Novo Século, foi que eles levaram DOIS ANOS, pra vir me propor publicar o livro em parceria!!!!! Meu... Se eu teria que pagar, qualquer editora me faria os livros em noventa dias. Se eu já não tivesse estudado já umas cinco propostas de editoras que fazem esse tipo de trabalho, teria até considerado a oferta da Novo Século, pois a gente encontra os livros da Novo Século em todas as livrarias. Eles realmente distribuem seus livros. Não é como outras editoras que aceitam a encomenda de fazer seu livro, você paga, mas tem que se virar em distribuir. Acho que é um bom motivo para optar pela Novo Século. Contudo, contratos com outras editoras por encomenda, dizem que você é o dono dos livros e o que você ganhar é seu. Com a Novo Século, eu pagaria os 1500, eles venderiam 1000 (você até tem os direitos relativos a venda, a porcentagem sua como autor), mas fica com 500 para entulhar sua sala, em sua casa. Venda-os da maneira que você for capaz de imaginar, use-os como calço para a mesinha da sala, ou para forrar a gaiola do canário etc.

O ponto primordial, e que me deixou fulo da vida nessa balela toda, foi que eu, desconfiado, perguntei, um ano antes, exatamente se o livro seria destinado a publicação tradicional ou se seria destinado a esse tipo de “parceria”, como eles chamam. A Daniela me garantiu, com todas as palavras, que seria pelos meios tradicionais, já que ela havia percebido que eu não estaria disposto a pagar para publicar e que, por isso mesmo, estavam tão “atrasados” na avaliação de meu livro. Disse que a demora era porque eles davam prioridade (passavam na frente) os autores que optavam por pagar para publicar. Que palhaçada, não!

Imagina... depois de esperar os dois anos, vem a proposta de eu pagar para publicar!!!!!
Fiquei sem chão, Janethe... Achei uma falta de respeito tão grande que mandei um e-mail esculhambando com eles. Disse que falta de ética era a o mínimo que passava por minha cabeça naquele momento.

A Daniela me respondeu dizendo que eu estava agindo tocado pela emoção do momento, e que deveria aguardar uma nova oportunidade, que ela levaria o assunto de novo ao conselho editorial etc. Até entrei em contato de novo com ela, por telefone, mas ela disse que o livro ficaria mesmo para o ano de 2007, quando então reavaliariam o projeto e tal...

Eles supõe que, por você ser escritor, é uma espécie de débil mental. Tem aqueles lances de narcisismo, de querer fazer de tudo para ver seu “sonho” realizado. Vender casa e carro para bancar a obra... Pensam (as vezes até jogam isso na sua cara) que, se você não tem “coragem” de bancar seu original, é porque não deve ser bom mesmo. Se você não “acredita” em sua obra não vão ser eles a acreditar. Juízo, bom-senso, preocupação com a família, falta de dinheiro... tudo isso deve ser posto de lado e você deve arriscar sua vida num negócio. Fazer a aposta...

Quer saber? A gente não deve nunca fechar portas, não é? Principalmente quando nós precisamos deles. Mas fiquei muito chateado com a Novo Século. Deveriam ter me mandado uma cartinha padrão, como todo mundo faz ou, se o negócio era parceria, ter me dito desde o começo, não ficar me enrolando. Achei um abuso... Por isso não espero mais nada de lá não. Achei falta de profissionalismo. Opinião minha, é claro. Talvez outras pessoas tenham tido mais sorte. Eles sabem onde me achar, se tiverem realmente interessados (como se editora saísse assim, atrás de autor iniciante, pedindo “peloamordedeus”, para publicar seu livro... rsrsrssrs). Só sei que eu não vou mais atrás deles.

O André Vianco deve estar dando muito lucro e eles parecem não precisar de mais ninguém (olha o chorão...), pois foi exatamente o que senti. Não estão nem aí pra mim (buááá!!!). No momento em que escrevi que “finalmente tinha sido aceito por uma editora”, no outro tópico desta comunidade, eu ainda estava naquela fase de esperar pela tal proposta, iludido que eles estavam falando sério quanto a publicar meu livro. Depois tive vergonha de desdizer que tudo tinha dado em nada, o que estou fazendo agora. Portanto: não deu certo gente. Não fui aceito, de novo...

Carta à revista Panorama Editorial

Carta enviada à Cláudia e Sônia da editora Veredas
após eu ter comentado matéria da revista
(elas se interessaram pelo assunto e queriam mais
informações para possível matéria)
Por Albarus Andreos
em Novembro de 2006.

Bom dia Cláudia e Sônia.

Sinto-me lisonjeado por seu interesse num assunto de meu interesse (a repetição é proposital). Apesar de minha veemência no tópico em questão (presumo que o tenham lido lá no Portal do Leitor meu comentário(reproduzido aqui, neste blog*)), acho que agora, amainada minha irritação, ele deveria ser tratado com algum humor (só um pouquinho). É sim, um assunto crítico, na minha modesta opinião (que hora pra ser modesto, não?), pois sou autor e não posso negar que minha frustração com as editoras é gigantesco, mas não posso deixar de considerar, que cada uma das editoras é dona do próprio nariz e cada uma publica o que quer e ninguém tasca, certo? Se ninguém vai comprar ou se os livros em questão vão sumir das prateleiras devido a tanta procura, é um assunto de foro profissional que demonstra a competência de cada uma das editoras em gerir o negócio a que se dispõe, livremente. Deve ter gente que gosta de jogar dinheiro no ralo, mas não sei se seria realmente o caso de editoras profissionais que se mantêm funcionando há décadas, em muitos casos. Editoras são empresas, e se forem mal administradas por “fabricar” algo para o que não há demanda, a punição é a falência.

O que posso dizer, já que “produzo” romances de fantasia medieval? Seria a mesma lógica aplicada a mim, como escritor, não é? Por que escrevo livros com dragões e feiticeiros, se a moda agora é escrever sobre mulheres metidas sob mantos pretos em algum país desértico? A explicação mais plausível para isso, é que eu posso ser subjetivo, como autor, pois eu escrevo o que sinto, o que me apetece... Já a editora é, SIM, uma empresa. Será que o tema que escolho como favorito é mais importante do que a famigerada “onda afegã”? Quantos milhares de livros vendeu “O Caçador de Pipas”? Vendeu pra caramba, não é? Como explicar que tanta gente se interesse por um tema tão raro?

Lendo a matéria deste mês da Panorama Editorial, talvez dê para entender melhor. São os formadores de mídia que colocam, indiretamente, um livro lá na principal vitrine e nas principais prateleiras das livrarias (Ok! Tem o “jabá” que é pago para as livrarias também, reservar os melhores locais de venda para quem paga (nos States isso é normal!!!!) mas esse é um outro assunto...). O que gostaria de saber é se tem jabá para jornalista elogiar um livro (calma! Isso é só uma abstração mesmo. Num país tão antiético a gente pensa de tudo. Nunca ouvi falar disso, mas como engenheiro do setor de autopeças, sei que alguns periódicos sobre automóveis são favoráveis ou não a determinado carro por estarem recebendo ou não uma grana preta para isso... Seja na forma de publicidade nas publicações, ou através do usufruto de veículos de teste para o bel prazer do autor das matérias, ou algo muito mais direto, mesmo. É o que ouvimos falar... Nossa! Como fugi do assunto, não?

Contem comigo, para sua matéria, se isso lhes convier. Terei o máximo prazer em ajudar. Mas só para ilustrar mais um pouco esse e-mail; uma editora que conheci por acaso através de uma outra crítica (oh,nêgo chato!) no Portal do Leitor, me recomendou, em e-mail, que devesse “diminuir as críticas à indústria editorial”, sendo que eu tenho interesse em fazer parte dela... Eu, que nunca me considerei tão importante assim para ser, de alguma forma, nocivo às editoras, fiquei até espantado. Mas é um bom conselho, certo? Ela me disse que poderia ficar “marcado” como autor problemático (?), o que as editoras não suportam! O único problema é... Bem... imaginem a cena:

Um “alto coturno” de uma editora famosa vê minhas críticas (cara! Estou nas nuvens só por imaginar que minha opinião possa chegar até esse nível, mas como “esse povo” deve ler até bula de remédio; de repente vão ler o que escrevo ,também!) e formula sua opinião: “Quem esse moleque pensa que é? Imbecil! Mentecapto! Nem sabe escrever direito e já vem querendo pôr as manguinhas de fora? Pau nele! Aqui nessa casa não entra material nenhum dele...Estão ouvindo (para os subordinados)? Se eu ver qualquer coisa de sua autoria quero eu mesmo picotar na maquininha. Aqui quem manda sou eu!”


Socorro Millôr!!!!

Abraços.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Para publicar vou ter que pagar?

Por Albarus Andreos
em 22/ 12/ 2006.


Para publicar vou ter que pagar (projetos em "parceria", é como os chamam as editoras que fazem esse trabalho).

É a conclusão a que estou chegando. Muita gente melhor teve que financiar o próprio livro no começo, não é? Não querem me dar uma chance, portanto é o que vou ter que fazer. Só queria dizer, porém, uma coisa: reconheçamos que editora tem que ter lucro se quiser sobreviver. Ok! Concordo. Mas então parem de ficar dizendo que as editoras colaboram com a cultura, isso e aquilo... Colaboram nada! O negócio delas é ter lucro como qualquer outra empresa e acabou! Não deveria haver qualquer incentivo fiscal ou isenção de impostos para as editoras. Alguém me explica, por que incentivos federais e isenções para uma empresa como outra qualquer? Se vou ter que pagar para publicar, então estou pagando duas vezes pois, além da "parceria", a que terei que me submeter, os impostos que pago vão azeitar a estrutura de uma editora que vive publicando originais estrangeiros pois "são mais garantidos". Nada contra o resto do mundo, que fique bem claro, mas as editoras sistematicamente fazem isso em detrimento de me aceitar como autor, esteja eu produzindo literatura tão equivalente ou superior a estrangeira, pela única explicação de que sou iniciante. Sem ser arrogante, não posso permitir que digam que o que escrevo é inferior, pois tenho senso crítico e leio o que é publicado (com um autor estrangeiro na capa), e muita coisa é inferior ao que produzo. Falta às editoras divulgar. Propaganda, relação mais profunda com a mídia. Formação de opinião. Estão esperando o governo convencer as pessoas a ler? Pois não é o negócio das editoras (e não do governo) vender livros? Produzam as editoras seus clientes. Corram atrás deles, como as indústrias de tabaco. Forme-os desde criancinhas. Encha-os de comerciais na TV. Distribuam brindes nas escolas.

Comemorem cada alma conquistada, como se isso lhes fosse vital (e deveria ser, não é? Ou o “bolsa-editora” que o governo lhes dá já é suficiente?). Invistam em publicidade, senhores. Um bom vendedor vende até geladeira para esquimó. Virem-se! Não joguem nas costas do autor iniciante a responsabilidade por um fracasso pelo qual não são responsáveis. Ninguém lhes está pedindo o “favor” de publicar qualquer “porcaria”. "Quem não tem competência não se estabelece". Não é isso que querem dizer quando recusam meus originais? Mexam seus traseiros, Roccos, Sicilianos e Records da vida, ou isso não é necessário, já que os estofamentos de suas limusines é mais confortável?

Apontamentos sobre literatura

CARLOS EDUARDO DE MAGALHÃES

A prosa literária se utiliza de duas ferramentas para existir, o enredo e a palavra. Anterior às duas vem a idéia, que as justifica e legitima. Sobre a idéia: ela é o mais e o menos importante. É dela que o livro nasce, mas ela deve se perder na linguagem e história. Deve ser como o princípio ativo dos remédios homeopáticos. Diluídos ao extremo até que reste um nada, ou, segundo os mais exagerados, apenas a memória daquele princípio ativo. Bom mesmo é que o escritor, quando acabe o trabalho, nem se lembre mais dela. E ela, dessa maneira escondida, diluída, agirá sobre o leitor. Uma idéia escancarada não é literatura, é panfleto, por melhor que ela seja.

A idéia é a alma do livro, é através do seu corpo físico, a palavra, que o leitor poderá enxergá-la. Ou não. Normalmente o que acontece é o leitor enxergar coisas que para ele façam sentido naquele momento. Por isso duas leituras nunca são iguais, ainda que feitas pela mesma pessoa. Existem também os fundamentos anteriores à primeira página escrita, e posteriores à idéia do livro. Antes de começá-lo, decisões são tomadas. A primeira, o tamanho. Dessa definição sai o ritmo, a profundidade, a velocidade de impacto. Um conto deve ter alta velocidade de impacto, dizer logo a que veio. Um romance deve ter velocidade controlada, uma sintonia fina no pé do acelerador.

O sem-número de contos que um romance contém são os centros de atenção nessa viagem, que tem seu ponto final em alguma estação desconhecida. No prólogo de Doze contos peregrinos, Gabriel García Márquez nos diz que se deve também saber algo sobre a estrutura que se vai usar e sobre algum personagem, que servirá de referência para outros personagens, ainda que esse primeiro um perca a força na construção da história. Pois se trata mesmo de uma construção. A estrutura são alicerces nos quais o livro se apoiará. Escolhe-se o tipo, ou os tipos, de narrador, como o tempo se passa, a linguagem a ser usada, entre outros parafusos e sacos de cimento.

E um projeto elétrico consistente, que dimensione a rede para toda a carga de energia que iluminará o escritor, seus dedos a percorrer um caminho que ele desconhece, e que não raro o surpreenderá. O enredo, a história, o fundo literário, é a gênese da prosa literária. A palavra escrita, a linguagem, a forma literária, é seu meio de existência. Depois da idéia perder-se, a história é de importância fundamental. Se a palavra elaborada é o combustível, a história é o motor que dá sentido à engenhoca toda. Escrever bem é prérequisito. Uma bula de remédio, um artigo de jornal, uma peça publicitária engraçadinha devem ser bem escritas, e os três não são literatura. Bem sei que como contar uma história é tão importante quanto o que contar, ou a história em si.

E existem tantos exemplos disso, mas fiquemos só em William Faulkner e Guimarães Rosa. Mas é necessário que haja uma história, e uma história boa. Faulkner e Rosa, outra vez. A técnica pela técnica, tão apreciada por alguns, me parece estéril, como ser muito bom em fazer embaixadinha. Vira só curiosidade ou referência, ou diverte o público nos intervalos dos jogos, quando os jogadores de futebol estão nos vestiários recebendo instrução do técnico. Se a embaixadinha existe, deve estar no meio de uma jogada, dar sentido a ela, ser tão genial que dê sentido à própria partida. Por outro lado, a linguagem literária aperfeiçoa a língua, a palavra escrita.

Talvez, mais correto que aperfeiçoa, seja atualiza, traz a palavra escrita para o mundo contemporâneo a ela, sendo seu reflexo. Hoje, no mundo fragmentado e veloz, um mundo sem tempo e com infinitos estímulos, a palavra é nervosa, seca, precisa. Contos breves, minicontos, frases curtas apareceram refletindo e definindo esse mundo sem metáforas. Às vezes nos esquecemos que literatura é, sobretudo, entretenimento. Não nos permitimos dizê-lo. Mas é. E quanto mais elaborada a palavra, quanto mais escondida a idéia, quanto mais rica a história, mais sofisticado o entretenimento. Um bom livro nos incomoda e nos inquieta, é o veículo em que somos passageiros solitários em uma viagem, por vezes árida, com destino a nós mesmos. Um bom livro carrega-se a vida inteira.

Um bom livro define uma geração. Como reconhecer o grande livro? Você o reconhece, esteja certo. Uma dica? Ele é aquele te derruba. E, derrubado, você começa a sentir o chão que te sustenta. Por fim, não nos deixemos enganar, não nos esqueçamos, sob pena da construção toda desmoronar feito um arranha-céu construído com cimento ralo e areia da praia – saibamos todos que o principal objetivo da literatura não é nem a história, nem a palavra. Elas são meios, o fim é o homem. A literatura talvez seja a maneira mais formidável que o homem descobriu para investigar-se, iluminar, ainda que precariamente, as sombras do seu ser.

O Brasil iraquiano

Por Albarus Andreos
em 24/10/2005.


Passados os últimos dias, e com a expressiva vitória do NÃO, talvez seja o momento de sentarmos de novo em nossas casas muradas e cercadas por grades, para pensarmos um pouco, fazendo algumas análises.

Temos, será, dois tipos de gente nesse país, realmente? o NÓS e o ELES? Sim, pois durante a propaganda na televisão (que me desculpem os debochados e os sabichões, mas eu assisto, sim, aos programas políticos. Pelo menos quando dá...) e, na minha modesta opinião, o maior erro do SIM foi classificar os brasileiros que eram contra a Proibição do Comércio e a Venda de Armas e Munições, como ELES (o NÓS, para mim). Esqueceram-se que estamos todos, mais que nunca, na mesma situação; além de se desfazerem de nossa insegurança (pois o NÃO preferiu dizer que uma arma, seja lá com quais reservas, tem sua razão de existir num lugar onde "Bang-Bang" faz sucesso).

O SIM dizia que, por sermos contra a proibição, éramos a "Frente da Bala", não nos importávamos com as pessoinhas aleijadas e as famílias dilaceradas pela violência que eles exibiam, apelativamente, no seu horário gratuito; éramos desalmados e sem coração, éramos a favor da violência, éramos a favor do sangue derramado que o Jornal Nacional exibe todos os dias no horário nobre. Somos então todos irresponsáveis, como vi agora o Presidente do Senado, Exmo. Senador da República Renam Calheiros, quando disse que "... espera que nós, ao vermos os próximos episódios de violência na TV, não venhamos a nos arrepender da decisão tomada no referendo (que custou mais de R$250 000 000,00 que poderia ter servido para dar um belo aumento para a polícia, sei lá...)".

Será possível que um erro de foco como esse pode ser aceitável? Queriam então provar para nós: eu e você que está aí lendo e que também votou NÃO, que somos tudo isso?????? Somos belicistas e violentos? Queremos então armar o povo para guerra que está se desenrolando (o erro é tão grande que alguns acham que não querer a proibição do comércio e venda de armas e munições é o mesmo que ser a favor do armamento... do aumento do número de armas em posse das pessoas!!!!) grande que alguns acham que nfrentamento e pelo olho por olho? , somos então pelo enfrentamento e pelo olho por olho? Sabemos que não... distorções de gente de mente curta!

Não sou nenhum maluco armado, odeio a violência e por isso mesmo votei NÃO!!!
Por que isso parece uma contradição aos olhos dos puristas?

Será que tudo nesse país tem que ser resolvido pelos mesmos métodos das torcidas de futebol? Aliás, futebol não é exemplo. Que nos digam as recentes denuncias e escândalos onde juízes (árbitros!!! Já que, talvez, chamá-los de "juízes" não seja adequado, pois geralmente, costumam resolver suas pendências em noventa minutos...) fraudaram resultados de partidas válidas por vários campeonatos oficiais.

As distorções do SIM, diziam, entre outras, que uma arma não traz segurança a ninguém. Desculpem-me agora os SIMnistas (ou seriam SIMnicos?) que construíram e apoiaram aqueles programas deploráveis de TV (e aqui não me refiro a você, que foi lá votar SIM, cidadão brasileiro), mas fazendo uma comparação por cima, no Iraque (embora aqui seja muito pior do que lá, em termos de sangue), os soldados americanos e ingleses estão armados até os dentes contra a “turba enfurecida”, e acho que nem por isso estão se sentindo confortáveis e seguros. Confesso que não é uma comparação muito feliz, mas tem seu valor. No Iraque, o “inimigo” é a própria população do país (aqui também, certo! Mas os opressores lá, passaram de um ditador mau-caráter, para um país opressor). No Brasil, já tivemos nossos ditadores, mas, não sei porque, me parece que naquela época a criminalidade era bem menor... Como parece ter sido no Iraque também... Bem... Sei lá!

Quantas semelhanças, não! Parece que sempre há um governo alheio ao que sofre um determinado povo e se faz omisso ao que ele sente e precisa. Será que no Iraque existe um ministro da justiça “competente”, como nós temos o Márcio Thomaz Bastos? Será que a Polícia Federal de lá também é patética como a nossa, a menina dos olhos do governo que, fazendo estardalhaço, prende bandido e socialite, e depois dá um tiro no pé roubando de si própria o dinheiro que acabou de reaver de patéticos contrabandistas de carne recheada com coca? Bem... Nisso acho que sim. Não devemos ser piores que eles nisso. Acho que aí somos só iguais!

No Iraque, o problema maior é o fanatismo. São muito menos os meliantes, mas lutam por uma “causa”. Matam americano, inglês, italiano ou iraquiano mesmo. Nem pensam no que estão fazendo, achando que o mundo do além é melhor que a miséria que têm aqui na Terra. Que nós não cheguemos a este ponto, embora o governo pareça nem se importar se o povo ficar tão de saco cheio, que venha a radicalizar, como a geração Zé Dirceu fez, contra os algozes de sua época. Os terroristas são em número menor, mas matam muita gente pois usam armas mais potentes ainda que nossos bandidinhos chinfrins das favelas daqui. Lá é de mísseis Stinger pra cima... (Ops! Quieto! Nem é bom dar idéia nesses assuntos, vai que algum traficante brasileiro sabe ler e acaba pondo os olhos nesse artigo...).

Os programas do NÃO também foram péssimos, diga-se de passagem, mas seu foco foi dizer que aquelas estatísticas mostradas pelo SIM eram pura balela, papo-furado, exageros, erros de interpretação e distorções grosseiras...

E o punhado de políticos aparecendo então? Intragável, não foi? Acontece que o contraponto do SIM foi, além de políticos, a Rede Globo, com seus funcionários famosos aparecendo e pondo a cara pra bater!!! Quem engole estas coisas?

É difícil se sentir Iraque... Sei que somos Terceiro Mundo, mas estes problemas deveriam ser superados de vez. Mas valeu o referendo. Por um momento nos sentimos como um Canadá, uma França da vida... Mesmo porque estava cheio de ONGs alienígenas comandando a estratégia do SIM e metendo as caras neste assunto, tão espinhoso, aqui do Brasil.

Aliás... Acho que agora entendi! Foi por isso que nos chamaram tanto de “ELES”.

Plebiscito pela proibição dos veículos automotores

Por Albarus Andreos
Outubro de 2005.


Carta ao Congresso brasileiro:

Sou motorista de táxi na cidade de São Paulo há 27 anos, desde quando aqui cheguei da terrinha, e gostaria, por meio desta, de lembrar que no Brasil, mais gente morre e fica inválida devido a acidentes de trânsito do que por armas de fogo. A violência no trânsito está um despautério, e nada se faz para aplacar a dor das centenas de milhares de famílias mutiladas pela perda de um ente querido, afligidas por este grande mal. Ora pois, a necessidade de se instituir um plebiscito para se apurar a causa raiz de tal desastre para a sociedade brasileira é algo premente, por isso gostaria de sugerir, outrossim, que as pessoas se manifestem sobre:
O BRASIL DEVE PROIBIR O COMÉRCIO E A VENDA DE VEÍCULOS E COMBUSTÍVEIS AUTOMOTORES?

Diga SIM, pois:
- um veículo é uma arma em potencial nas mãos de um bandido qualquer e ter um veículo automotivo em casa pode significar um veículo a mais nas mãos dos malfeitores no futuro, que poderão usá-lo para roubar e matar um inocente;
- quem tem um veículo em casa está sujeito a causar um acidente sério que afligirá um inocente qualquer, um dia. Seu direitos vão até onde começam os direitos dos outros, não é?;
- não é justo que tantas mortes ocorram devido a um maluco no trânsito, um marido ciumento, um desafeto de índole vingativa...;
- o pa, tu não sabias que 95% dos carros nas mãos dos bandidos um dia foram carros comprados legalmente por um pai de família?;
- lembremos que um carro, depois do dinheiro, é o que mais atrai bandido.Contudo, não poderemos proibir a venda de carros para todos, é óbvio:
- sempre será possível se pegar um ônibus ou um táxi (o meu, de preferência!!!);
- se você já tem um carro, não será obrigado a se desfazer dele. Oh não! Mas a compra de combustível será proibida;
- pra quem provar que precisa se locomover, um complicado processo será instituído, com cobrança de pesadas taxas e controle do veículo pela burocracia do estado (humm, parece que isso já é feito, ora pois!);
- policiais, juízes, promotores, oficiais de justiça, esportistas (pilotos de carro), pessoas que residam na zona rural e pessoas que comprovadamente se utilizam de um carro como ganha-pão (nisso está incluído o taxista, obviamente, como este humilde gajo que vos escreve) ainda poderão possuir carros.
- políticos, atores da Rede Globo, artistas e cantores (que ganham bem) poderão sempre contratar um profissional (ou vários) para portar o veículo para eles, caso precisem. Contudo, se tu pretendes optar contra a lei o teu direito de conduzir um veículo por conta própria, e for pego pela polícia (que, aliás, não cumpre seu papel de assegurar um trânsito seguro e eficiente nas cidades e estradas brasileiras), será preso por porte ilegal, será considerado um bandido violento que faz apologia ao crime sendo incluído no mesmo rol de tipos como aquele bêbado que atropelou e matou doze pessoas num ponto de ônibus ou os meliantes que carregaram e martirizaram o pequeno nas ruas do Rio; poderá pegar até oito anos de cana, servindo, inclusive, de mulherzinha para todos os companheiros de cela.

DIGA SIM A PROIBIÇÃO!!!!Já imaginou quantas vidas serão salvas? Aliás... Podemos começar por um programa de entrega voluntária de veículos. Você não ficaria mais tranqüilo se pudesse se dirigir até uma delegacia da Polícia Federal para entregar seu veículo por livre e espontânea vontade, ficando livre desse fardo? Seu direito ao anonimato seria preservado mesmo se o IPVA ou o Seguro Obrigatório estivessem vencidos. Em troca levaria de lambuja R$100,00 pra casa!! Não seria uma maravilha? Fica aí a sugestão, ora pois.

Sem mais para o momento,

Um abraço (por trás) deste cordial amigo que vos escreve!
Manuel Joaquim de Trás os Montes.